sábado, novembro 26, 2005

nada mudou

Careço das tuas mãos,
o meu rosto pende sobre elas,
vencido
e apaixonado
pede por mais,
pungente.
mergulho sem hesitar no teu carinho
rendido a ti,
alquimista das palavras mudas.
Lá fora
o mundo prossegue.

A chegada

Escorrem lágrimas na janela
Fundem-se os meus olhos nos teus
As nossas mãos gigantes se aplanam
Contendo em si as feridas que se inflamam

Nas labaredas dos sentidos teus e meus
Há a fome e o medo que nos mata
E uma temível distância que nos farta
Erguendo-se na fúria escassa da chegada

sexta-feira, novembro 25, 2005

Palavras à deriva

É a dor que me condena a este barco
É o amor que por ser mastro
Me orienta a este porto de cansaço

sábado, novembro 19, 2005

Memórias utópicas

É de manhã,
mas ainda se sente a madrugada
de uma noite que foi tua,
em que os sonhos
conseguiram colorir o teu sorriso
com toda a perfeição
(como as palavras nunca conseguirão)
mas resistes em mim,
e toda a luz que agora invade o meu quarto,
é o teu crepúsculo
a ensinar-me mais uma vez
a viver com a sincera felicidade
de amar.

Solidão

Sei que escrevo sobre o que sinto
Com um instinto de sobrevivência
Que me tem poupado a vida
Temo os meus próprios passos
Temo a angústia permanente da mente
E as saídas precipitadas que se me deparam
Temo a solidão negra deste fosso
De muralhas escarpadas de onde, em vão,
Me liberto, porém não escapo
Temo a solidão que me engrandece
A solidão a que recorro quando pressinto
Que jamais habitarei um corpo são
Transporto um segredo que me mata
E morrerei se em algum instante
Alguém esboçar em mim o seu retrato
Luto com a dor da saudade todos os dias
Morro com a dor do pecado todos os dias
Mergulhei num lago de chamas
Sou a mais verme das criaturas por quem passo
E no entanto, careço tanto de um abraço...

sábado, novembro 12, 2005

Poeta por acaso

Não quero perder nada,
do que perdi
e voltarei a perder

não quero perder nada,
nem palavra,
nem o verso
destemido
com que me escrevo
nem o reverso
de um mundo volátil
em que os sonhos ganham asas

quero voar com as palavras
e talvez tenha sido por essa razão
que me tornei...
poeta por acaso.

Na memória dos sentidos

Transporto-te no silêncio
Na memória das mãos
Onde gravei o teu corpo
Desejoso de me amar
Na memória dos sentidos
Onde resides imutável
Como uma estátua
Em que não posso mais tocar

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