terça-feira, agosto 30, 2005

Minha Lua

Ontem vi Júpiter luzindo ao teu lado
Tentando, em vão, roubar o teu sorriso
Minha lua suspensa sobre as asas do infinito
Amante perverso em que me afundo
Num vulcânico abismo consentido

Universo

Já bebemos do cálice volátil do Universo
Circula em nós o sangue cósmico da matéria infinita

"Noites Brancas"

A névoa cobre o teu corpo distante
E rendes-te à miragem dos dias alados
Sucumbes perante o bosque proibido dos sentidos
Sentes que a margem dos segredos te acompanha
É água e terra o seu sorriso
É chuva tépida que te embala numa viagem
E surges, explodindo na noite como um desvio
E qual Andrómeda que se expande colidindo com a galáxia
Avanças nas noites brancas como um delírio
E filtras das vozes o som que apuras na distância

Vida Insondável

Violentas a noite à minha espera
E ignoras que a lua é só minha
Embebedas-te com a saliva adocicada
Que dos meus lábios se evapora
Sentes que avanço numa dança insondável
De conflitos e segredos escondidos
"Mas por que não arriscas?"
É que tu não sabes em que linhas teço a vida

Horizonte

Surge-me uma esfera azul como limite
E a distância do passado não reage
Habito em casas vastas
Em que me afasto
E de onde emito esta luz que me constrange

A esfera azul como limite
Dos desejos raros
Revestidos pelos sonhos que alcançamos
Beleza esférica em cujo centro me concentro
Porém me rasgo

domingo, agosto 21, 2005

A três meninos poetas...

Estrangeiro da própria terra
O poeta chama a revolta
E ei-lo que paira sobre a matéria
Desfolhando ao vento
A luz eterna que vem e volta
Como uma dança fria que se recorda
Estrangeiro em sua esfera
O poeta não ouve nem descansa
Sonha e em sonho vive
E em sonho se levanta
E ao fim da vida
Levará no lenço talvez a esperança
Em que o tempo o beije e aproxime
Do mundo que deseja, mas não alcança
Quem sabe o vento lance a sua voz
Nos olhos da multidão
Plena de incrédulos e cegos
Que no seu mundo se alastram
Invejosos do dom que o afaga
Sempre que ele rompe os astros
À nítida voz de pedra que se arrasta
Em cada linha servida ou semeada

E ao fim de tudo, o silêncio...

E ao fim de tudo, o silêncio...
A esfera metálica da vida
Os ruídos nocturnos
Que se espelham nos sonhos
Onde a dor é revivida

O manto incorpóreo do amor
Desce sobre o meu rosto
Desfazendo em cinzas cada traço
Das vozes roucas do desgosto
Mas urge o silêncio no torpor
Em que desfaço tudo o que faço

sábado, agosto 20, 2005

Caminho Inesperado (II)

O meu medo irá desviar-te
Poucos o conseguiriam suportar
Poucos persistiriam em tentar
Quando a montanha é gelada
Parecem não existir meios que a demovam
Quando um caminho é inacessível
Esgotam-se as forças para segui-lo
Quando o mistério nos aflige
Mergulhamos na diferença
E o medo vira-se contra nós
E iniciamos uma dança convulsa
Entre dúvidas e fracassos
Que nos deixarão de novo
Entranhados numa intensa solidão

Caminho Inesperado (I)

Fazes-me sorrir
Condensas as horas
E dou por mim
Por breves momentos iludida
E imersa de novo na esperança
Poderias tu resgatar-me?
Poderias tu levar-me para longe deste mar?
Poderias tu afundar a minha dor
Num lugar longínquo e inacessível?
Poderias tu inverter este destino sombrio?

sexta-feira, agosto 19, 2005

Morrer no teu leito

Partes?
porque partes tão cedo?
a manha ainda agora floriu
e serás a luz do dia
se não puderes conter mais o teu luar.
Vê o meu rosto pender sobre a tua mão,
pede mais,
pede que todas as aves cantem para ti
em melodias que tão bem acompanharão o silêncio.
sussurra aos dedos que o acariciem,
pede-lhes conforto,
pede-lhes um lar
que tera não mais que um palmo,
esse seria o mundo onde queria morrer:
entre os teus dedos, esveiar-me
até a morte certa de todas as flores
que te dei, e continuartei a dar.
eu pertenço-te meu Lar!
não partas,
não quero ser condenado ao desterro
porque morrerei de enterna solidão?
quero morrer aqui, ao teu lado
até que a minha face pálida
me faça perder sorriso singelo,
que morreu nos teus olhos.
e perder a respiração
no teu leito,
morrer, no teu peito
morrer em ti.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Naquela tarde

hoje,
dei asas ao vento
e nos teus olhos,
voei muito para lá
de tudo o que é descritivel

hoje,
pus a mão no teu rosto
e pintei um retrato
daqueles que só tu
puderas desenhar.

ninguém quebra o sorriso
que tu fizeste nascer
naquela tarde
em que te deitas-te ao meu lado.
vimos o tecto
desfazer-se em estilhaços
de azul e magenta...

no céu desenhava a lua
que sorria ao meu lado.

quarta-feira, agosto 17, 2005

O chão de tudo

senti o sólido chão,
desamparado e sem asas para mais
estatelei o rosto no solo, de tudo.
no chão do mundo.
voar derrepente pareceu impossível
e apenas me deixei cair
na dureza do horizonte
no cheiro moribundo da merda!

as nuvens deixaram de ser o meu lar
as estrelas deixaram de acompanhar de silêncio o luar
e aqui,
selado no meu poiso
jazo,
toda a verdade:
as vezes ódio outras vezes amor,
me entrincheirou
entre o chão duro que me amparou
e o ar pesado que me fez permanecer
atado a um solo
de uma terra estranha,
existente
mas pouco.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Evasão urgente

Evadir-me
Suar o medo da diferença
Fugir daquilo que me aflige
O decorrer do mundo em mim ausente

Consequências do destino

Permaneço inerte na loucura do desterro
Construo uma vala à minha porta
Seguro o fio que me prende a este erro
E ao fim de tudo afasto-me, mostro-me morta

Fermento na dor de mendigar somente esmolas
Abdico do trono de viver em prado efémero
Se a vida em mim são só pausas e demoras
Busco viver sem saber tudo que espero

Devia gritar a pútrida nuvem de aforismos
Em que o meu espírito se devora
Devia fluir em mim o sangue passado

Da paz benigna antes do terror dos sismos
Que à minha porta vão surgindo nesta hora
Se o destino que me aguarda for a teu lado

O exilo contigo

Não sei em que lugares nos perdemos
Desconheço se a luz nos limita ou nos afasta
Retenho a vida sempre que julgo te perder
Escapo-me em imagens e palavras para nos termos
Experimento o exilo entre gemidos e jactos de prazer
Recuo perante o medo e a coragem gasta
Pelos inúmeros silêncios em que vendaste a minha alma

Rumo a mim

as vezes vou
rumo a mim,
dou voltas e voltas
e a mim me destino
finjo ir á deriva
finjo ser nada
e não me censuro,
por me procurar.
apena quero encontrar o que sou,
deixar o que fui
e correr livremente,
para o que serei.
tentarei ser.
ser apenas...
pouco importa o que tenho
o que não tenho
o que terei.
ser é mais que isso!
é ter rumo
é, mesmo que não tenha destino,
ir,
á procura,
do nada que sou,
do tudo que serei
quando me encontrar

os Estilhaços

Já não há nada a dizer.

a tinta com que escrevemos o amor
toma agora a cor do papel
a tela onde esboçava o teu sorriso
não é mais que um retrato de cépia
os teus olhos eram luas cheias
que já não ardem nas noites brancas
o teu luar que foi o mundo
agora toma o seu lugar de corpo
o meu coração assaltado escreve agora
a restituição dos estilhaços
e nascem muros em mim onde
os segredos, todos eles
são uma caixa por fechar.
e das mãos entrelaçadas
jaze um nós estilhaçado

que morre nestas noites sem luar.

sábado, agosto 13, 2005

O Fim

O "nós" desfaz-se
sobre os nós atados,
e sinto um fim precoce
do curso do imponente rio
que de uma imutável sempre
nunca pode durar sempre

demos ao tempo tempo
para que possa copular com o momento
demos razões ao esquecimento
para se perder nos nossos olhos
demos asas e vento
ao sonho estéril que somos nós
demos tudo o que pudemos
mesmo que fosse apenas um pedaço a menos de tecido

de tudo o que demos,
nada resta,
só o silêncio
e restos do que não resta
sobre dois corpos
dormentes
e frustrados.
é
imutavelmente

O Fim.

A minha Lua

ela estava lá fora
supensa de nada
aparentemente nua,
vestia a cor adequada
ela chama-se Lua.

e ela estava lá fora
completamente nua
iluminava os meus lençois
nessa noite que era sua
e no seu olhar,
eu era alguém.
apenas alguém.

e ela estava lá fora
solene dona do firmamento
transpirava o seu nome
e saboreava o momento,
palpitando só para mim
nessa luz que só eu via.

e ela estava lá fora
morava nas noites brancas
e na nudez do seu olhar,
e no pragmatismo da sua anca,
eu era alguém,
mais que ninguém.

e tudo o que foi essa noite
certamente não volta a ser,
e eu gritava para mim mesmo
que ela estava mais que dentro,
dentro do meu quarto,
dentro do meu corpo,
dentro do meu amor,
dentro de mim.

A desincorporação

e permaneço pendente,
nada é materializado.

sem semblantes vazias
nem cadáveres corrompidos
nem ossos despedaçados
nem asas e maresias
que não passam de sonhar alto...

e a solidão resiste
porque nunca há-de faltar,
num corpo
a quem eu há muito,
já falto.

O ovo

e do ovo em que nasci
que se rebente a sua casca
e das janelas entreabertas
mais um vidro se estilhaça
e no meu esquisso sombrio
mais uma linha se traça
no espelho em que vidro
a poesia jaze escassa
no retrato que eu sou
minha tela se enterlaça
com as cores que me pinto
com o que quer que eu faça
adeus, meu caro ovo
quero ser livre de causas
se fui feito para nascer
pinto agora as minhas asas

oh brave new world!

depois destes longos dias fora da civilização, voltei da solidão, vazio.
bem, acho que não valem muito estes comentários de regresso ou ida. o que realmente me importar é trabalhar aqui, continuarei a fazê-lo! com todo o meu empenho. mãos á obra...continuarei a fazer o melhor possivel.

O mar que era

fui um imenso mar em ti.

a minha maré era sempre cheia
e não havia lugar para fugir
desse mundo submerso que eramos.

em mim,
as tempestades brotavam por todo o lado,
e nós dançávamos,
sorrindo
profundamente ligados
como se fossemos um.

lembro-me
que nunca percebia
se flutuava
ou me afundava,
pensar nisso era tão supérfluo!
a única coisa que queria
era ser um imenso mar em ti
tudo era tão ridiculamente estúpido
que não percebo,
como possa ter acontecido.

no entanto,
vazo.
e apenas queria que me voltasses a afundar
mas vazo,
e continuo à espera,
secamente à espera
que esta ondulação agora amena
volte a revoltar-se
e as tempestades,
que cresciam por todo o lado
me voltem a fazer voar,
voar para o fundo do mar
ou do céu

custumavas dizer que:
o céu e o mar estavam intrínsecamente ligados.
e eu acreditava
acreditava em tudo o que dizias,
ao teu lado tudo era possível e fazia sentido,
voar fazia sentido!

então eu voava para o céu
ou para o mar,
com as asas que me deste
sem sequer o saberes.
voaria para o fundo
do mar ou do céu,
não interesa!
para o fundo de tudo
para o fundo de mim
no teu corpo,
como se fosse meu também.

dois porquê?
porque temos de seres duas gotas de água?
não podemos ser uma única lágrima?
e dela fazermos esse imenso mar
que tão profundamente fomos,
ao sonhar.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Férias...

Chegou também a minha vez de me ausentar... Penso que o blog ficará inabitado durante alguns dias... Mas decerto o regresso será repleto de poesia... A menos que o sol nos esturrique os neurónios!!!

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