quarta-feira, outubro 26, 2005

O tempo e o espaço encerram-se em mim

Passou um ano e regressei aos mesmos corredores
Parece que ainda me vejo,
O olhar perdido, à procura do teu rosto
A multidão que ocultava
O rosto que eu desconhecia
O meu andar acelerado pelos corredores
As lágrimas que iluminavam
O grito oculto na garganta
Daquele nome que eu te dava

Um ano e eis-me no mesmo lugar
Tu estás perto e tudo deixou de ser vago
Os mesmos corredores
As mesmas imagens
Os mesmos lugares expostos
E tu ali, como se o tempo e o espaço
Se encerrassem em mim
Hoje segurei as lágrimas por ti
Hoje relembrei imagens
Relembrei a dor que te causei
Aquela dor antiga que ainda me rasga
E o teu olhar próximo do meu
Abrindo-me o peito num abraço

Um ano depois e tudo permanece
Um ano depois e eis-me perante a realidade
Que eu pensara impossível de enfrentar
Um ano depois e eis-me ali, ferida de morte
A arrastar-me pelos corredores
Que te levavam para dentro de mim

segunda-feira, outubro 24, 2005

A dor que me matou

As luzes da cidade embriagam-me
É noite e tu distante
Na outra margem do rio
Estás sempre na outra margem
No outro lado do mundo
No outro lado do dia,
No outro lado da noite
No outro lado do rio

É noite e tu distante
E esta cidade esconde-te nas sombras
Rodeia-me uma multidão
Mas tu viajas em mim
Viajas comigo... Sempre
E ouço-te dizeres-me:
"De tão imensa já não cabes em mim"
De tão imenso o teu amor alcança-me
Ainda que distante, ainda que proibido
Ainda que secreto ou perverso

Levito na dor, esmago em mim este desejo
Que me mata... Haveria algum caminho?
E se eu atravessasse o rio?...

E estas memórias? E a dor da tua mentira?
E as palavras que escuto demente?
E os anos que passaram?
E a dor? A dor que me mata?
A dor que me transforma?
A dor que me amarra?
A dor que escuto ao lembrar o que queria esquecer?

Porquê? Tanto e tanto tempo para me contares?
Tantos e tantos momentos para me mostrares... Porquê?

Vejo-me... Corro para aquele mosteiro...
As flores... O bilhete escondido nas escadas...
E a foto... A foto que não encaixava em nenhum lugar...
As palavras...
As mentiras...
As mentiras...
E as mentiras?...

E a vontade de correr para os teus braços
E a dor que me mata...
A dor que me matou...

terça-feira, outubro 18, 2005

Chamar-te Rio

Corre um rio no teu corpo
sem rumo...
é tua
toda a beleza
pura e inocente
da natureza,
e em turbilhões de azul
vais corrompendo a estabilidade.
e onde estiveres, há-de estar o vento
e onde estiveres, hei-de ter asas
onde nasceres,
viverá uma nascente.
que irrompe impetuosamente
as margens da realidade.
por isso, rio chamar-te-ei
porque em ti
o céu fica mais perto.

Poeta perdido

Poeta disparatado.
Porque insistes
Em tentar escrever?
Se não sabes escrever
O Amor...
E sem puder amar
Não consegues sonhar
As palavras que tiveram
Uma razão sem sentido?

Poeta disparatado.
Porque insistes
Em gastar o passado?
E de um copo
Partido
Bebes os estilhaços
Da saudade cortante?

Poeta disparatado.
Porque continuas a gritar
a voz silenciada
que morreu em nós?

Talvez por amor...

...poeta disparatado.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Se...

Se eu pudesse atravessar estas paredes
Se eu pudesse ser como o vento
E invadir o teu corpo sempre que o desejasse
Se esta dor que nos devora
Não nos matasse
Se eu pudesse libertar-te dessa magia
Que nos envolve e aprisiona a cada instante

Se eu pudesse resgatar-te à saudade
Se eu tivesse coragem de ser feliz ao teu lado
E ignorar as margens de afecto que nos afastam
Quem sabe, toda esta ferida imposta pelo tempo
Demasiado longo que atravessamos
Se esmoreceria pelas cinzas dos nossos passos

Agonia

Como podemos suportar tantas mentiras?
Como consigo viver duas existências paralelas?
Como posso viver sentindo na pele esta agonia
De saber que sou um aberrante aparato da essência que transmito?

domingo, outubro 02, 2005

Memórias permanentes

Com o vento se foi
A vontade de chorar.
A vida é dura
Sim.
Mas complexa?
Só para quem assim
A quer ver.

Deixar-te
Ainda não é algo que faça
Sem mentir ao vento.
A noite
Ainda permanece
Prisioneira
Do teu olhar

Não sei adormecer
Sem os teus lençóis imaginários
E o teu beijo
Jaze gasto
Nos meus lábios
Que te rescrevem
Na escuridão
Do teu sonho

Continuo a escrever-te cartas
Interditas e sem dono,
O meu correio insiste
Em ser teu,
E repetirei as memórias esperançosas
Infinitamente,
Neste canto enganoso,
E rumarei a ti
Levado pela força do vento
Com as velas frágeis
Do barco incerto da saudade.
Sim...!
Morrerei na tempestade
Dos amantes
Que adiam
O coração.

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