sexta-feira, setembro 23, 2005

A lua em mim

A lua espelha o teu rosto
E vejo-te, inerte nos seus lábios
Os teus cabelos pendem sobre a noite
Adormeço-te ausente, vejo-te em mim
Secretamente, beijo-te o olhar
E invento mais palavras para te amar

Deve ser porque te amo

Tropeço nos objectos
Sinto que por vezes morro
Mas deve ser porque te amo

Mergulho febril nas horas
Sei que prolongo a ilusão
Mas deve ser porque te amo

Arrisco a solidão e o degredo
Encubro um segredo que me devora
Mas deve ser porque te amo

Vacilo entre o amor e a coragem
Enclausuro a vida nos teus lábios
Mas deve ser porque te amo

Deve ser porque te amo
Que acordo todas as manhãs
Sabendo que este mundo
Nos pesa, impiedosamente,
Sobre os braços...

quarta-feira, setembro 21, 2005

Outra porta

Para além do horizonte
está algo igual,
outras novas terras
que não diferem
nem por um sinal.

como gemeas puras
que não têm a mesma cor,
uns com pigmento
outros com pudor
mas todos com o mesmo jeito
de dar todo o seu amor.

todos temos frustrações
todos temos nossos ódios,
o que todos choramos
são lágrimas
que se perdem nos seus própios códigos

por isso não vale de nada
ter um pequeno lugar
para o racismo
e a para a guerra nuclear

olhem bem nos olhos
deste novo irmão
perguntem-lhe se sabe
o que é a alienção
se conheçe a filosofia
ou quem é que foi platão
não! não sabe
mas conheçe bem o sabor
amargo, da solidão

então porque se nega o direito
de pertencer á cepa-torta?
porque se nega a outra cor
o abrir de outra porta?

sexta-feira, setembro 16, 2005

Tanta beleza no teu olhar

Esse teu rosto está gravado na minha memória
Em traços brandos que tento esculpir em palavras
Essa boca maciça e frágil que me devora
Esse olhar brando e terno que esconde a tua estória
E todo o corpo manso que me esmaga de vontade
E que me faz viver aguardando a nossa hora

Existe tanta beleza na tua voz,
Nos teus gestos
Nos teus contornos
Nas tuas palavras
No teu sorriso
Nas tuas lágrimas
Existe tanta beleza no teu olhar
Tento dizer-te,
Mas não me ouves...
Há uma beleza imensa em ti
Que me espanta e me renova

quinta-feira, setembro 15, 2005

Outono

E agora amor,
o tempo não espera
pelos amantes
que seguem o ritmo do coração
e assim
me despeço
no mais frio
de todos os outonos

quarta-feira, setembro 14, 2005

Setembro

Como o nosso amor findará
Não sei...

Onde andas? Onde descansas? Onde sonhas comigo?
Onde gritas o meu nome?
Onde estão as memórias do meu corpo no teu?
Onde cessar a saudade desta distância imposta pelo pânico?

Encontrei-te à entrada de Setembro
No fim de uma tarde fria...
Avistei-te perto do mar de todos os nossos sonhos
Na mesma rua onde prometeramos o reencontro
Pedi-te: "Não vás embora!"
E pela primeira vez na nossa estória
Cedeste ao meu pedido,
Ficaste...
E lentamente, porque o medo nos bloqueava a vontade,
Sentei-me naquele banco iluminado pelas sombras

E tu olhavas-me distante
Preparavas-te para o assombro inevitável
De lábios e braços e rostos e corpos
E assim que me aproximei da tua porta
Sussurraste-me: "Não precisas ter medo... Entra!"

Setembro foi o mês do nosso encontro adiado por tantos anos
Setembro foi o mês das noites brancas
O fim das noites em que te procurei na cama e não te encontrei

Mas uma semana para te amar foi tão pouco
Tão pouco para tudo o que teria para te dar...

Enlouqueço de saudade e de dor por toda esta distância
Imposta por um mundo cruel e imperfeito
Enlouqueço por te sentir triste,
Porque sou eu que sorvo todas as tuas lágrimas
Sou eu que te embalo nas noite frias,
Quando só te resta o meu cheiro
E as lembranças do meu corpo pálido
Embebido no suor do teu abraço...

«Setembro inventa os contornos
Dos amantes que se amam em silêncio»

segunda-feira, setembro 12, 2005

Silenciosamente

estou fechado num monólogo de silêncio
não há saída de ti
nem nada a acrescentar
ao beijo

berro sem fim
ás paredes finas como seda
aos espelhos sem reflexo
neste beijo mudo
sem tempo nem solo
que é mais que um momento teu,
é tudo o que de nosso
fez o mundo
em que voei,
no teu corpo
para leste...
de tudo

sorri
e silenciosamente percorri
os teus lábios
sem razão nem arte
pintei de todas as cores
um sorriso teu,
o melhor que pude

e não sei dizer
nem lembrar
aquilo que pareceu,
sonhar

sábado, setembro 10, 2005

O teu olhar

Abandonei-me no teu olhar distante
Nesses olhos tristes com que assaltas
Tantas vezes o meu corpo de amante

Seduz-me o teu sorriso, todo esse encanto
Vida submersa de amarguras do passado
Nuvem alada em cujo núcleo me quebranto

Teu

posso sentir-te,
debaixo das pedras frias
desta calçada
posso sentir-te,
enquanto descanso as pálpebras
que fartas estão
de serem atropeladas
pelo que vêem
posso sentir-te,
enquanto as lágrimas caiem
secas
do meu rosto
no outono da vida
posso sentir-te,
a cada compasso de silêncio
do meu vazio melódico
posso sentir-te,
quando olho para o teu retrato
decorado de flores
que jazem pálidas
no teu leito

nada parece
alguma vez,
ter parecido.

Temporal

Estou tão longe dentro de mim
tão preso ao nada que sou
farto das palavras que de minhas têm,
uma assinatura
que de sábias têm,
aquilo que tenho sabido
que de vivas têm,
a morgue de ter nascido

já tentei sarar a ferida.
já tentei estancar a vida.
e o sorriso aparente
são tempos perdidos
em que o tempo
precisou de tempo
mas não, não parou.
em que gastei
o passado
o presente
e o futuro
a procurar,
quem sou.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Avenidas do Silêncio

Avenidas de silêncios
As que prescruto com os teus dedos
Lágrimas escuras de sombras
Que nos abrigam dos incêndios

Gritamos nos subúrbios dos medos
Que escutamos na saudade
Engrandecidas pelo tempo
Em que nos assaltam a liberdade

terça-feira, setembro 06, 2005

A Calçada civil

São 7 da tarde,
num dia qualquer do ano,
a cidade dissolve-se nos rostos apavorados
que andam de um lado para o outro
num temor sereno e ameaçador

as faces perdem-se na mulditão
que por sua vez perde identidade
correm, correm sem destino
não sabem para onde vão,
nem sequer quem são,
movem-se,
apressando a passada
porque o tempo voa
e escasseia.
o tempo...
o tempo morre
os relógios perdem-se e os ponteiros param.
as sombras arrastam-se
tentando arranjar um pedaço de chão,
para descansar
e recuperar o fulgo.
as cabeças esmurram-se
e cospem o chão onde passarão amanha.
em coma, parecem nem perceber
do ruído poluidor que os rodeia
porque...
porque também eles são poluição
porque eles são lixo!

oh seres humanos
soldados de uniforme civil
ou
civis uniformizados...
não passam de lixo!
que mergulhará no entulho
desta calçada,
monotona,
viril,
onde somos meros transeuntes
onde nascemos
vivemos
e morremos.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Sobre ti

volta para o palco,
leva as luzes
as câmeras
as rimas
os rostos.

vai dizer coisas disparatadas,
sorri
olha-me lá de cima,
e diz-me
como sou.

espero-te aqui,
ardentemente.
mas sei que sempre serei incolor,
sei que poderias passar por mim
como se não fosse materializado
sem nada dizer
sem olhar
sem sentir,
e é isso que fazes
nas noites em que és dona de mim.

és protagonista de todos os retratos
que só tu
puderás pintar.
és a lua de todos os firmamentos
que no seu brilho mentiroso
passa de minguante a crescente.
és comandante da ribalta
e tudo te é oferecido,
eu ofereço-te o meu olhar
o meu amor
e os meus pequenos bocados de nada.
tu nem sequer me olhas,
a luz apenas incide sobre ti,
e por ti.
não olhas,
não vês,
nem reparas,
que te amo.
mas no entanto,
todas as noites berras sobre mim
sem saber porque:

o amor é uma loucura,
não façam pouco disso.

domingo, setembro 04, 2005

O nosso segredo

O nosso segredo explode-me na pele
Como uma pústula infectada
Que procria lágrimas na carne
O nosso segredo cinzela-me o rosto
Como uma lâmina afiada
Abrindo os poros por onde pairas

O meu corpo desintegra-se
E procura o teu num espaço
Que não é mais o mesmo
Em que ainda ontem nos amamos

Enigma de Insucesso

Há dias em que percebo
Que não decifram o meu mistério

Estarei predestinada à solidão?
Serei, quem sabe até, um enigma de insucesso?
Talvez...

Reparem,
só eu me assisto
Todos os dias
E só eu presido
Atenta e revoltada
Às guerrilhas que fermento
Assusto-me...

Não queria permanecer assim
Por muito tempo
Ouvi dizer que:
«Há dias em que faz inverno
Também no coração»
(Pedro Barroso)
E eu precisava de alguém
Que de um só golpe me livrasse
Do deserto em que me envolvo

Do deserto em que naufrago

Se algum de vós,
Então, me ouvir...
Procure por mim
Estarei, a sorrir, ainda à espera
Aguardando neste lume uma janela

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