quinta-feira, junho 30, 2005

A vida comum... Esse refúgio...

Alimento uma vida comum
Para sobreviver à loucura
E ao pânico da diferença

Não queria ser quem sou

Nem tão pouco fazer tudo que faço
Mas cabe-me uma parcela comum
Numa pele idêntica a tantas outras

E se cá dentro grita um navio

É porque lhe nego um porto e um destino

Chove... Lembras-te?

Já viste?

Hoje chove

lembras-te dos nossos sonhos na chuva?

Não há um dia em que ao vê-la
Meu coração não pare
E não se exalte

lembras-te como sonhávamos ao vê-la?

E hoje chove
Não há um dia em que não acorde
Em frente a tua casa
E fosse como se não morresses
E eu estivesse ainda nua nos teus braços
Imersa nos laços da tua lua
Cativa sem que desaparecesses

Não penso... Mas gasto-me nos teus lábios...

O teu amor transformou a minha vida numa agonia
A tua máscara destituiu-me da alegria
Depois de ti os dias sucedem-se sem agrado
Nada há neles que me anime
Nada há neles que me cative
Só a tua presença sombria
Caminha ainda a meu lado
Só a tua ausência me deslumbra de cenários
E o ópio que cresce dos teus lábios
Embebede-me a mente de cansaço
Deixo que o meu corpo sucumba
Aos teus íntimos segredos
Não penso...
Em ti há só desejos que reprimo
Porque está na minha mão conceder-nos a vitória
Está na minha mão resgatar-te a esta estória
Ao desespero desse corpo adulterado
Quase morta, avanço contigo
Exausta no caminho
Persisto em acompanhar-te
Num rasto que se perde
E que em espuma anda perdido
Não vou morrer contigo na tempestade
Nem na doença
Prometo-te, prossigo lavada em sangue,
Mas resisto e basta-me um sopro de vida
Que me alcance a mão para que eu vença
E te arranque da barreira que me fende

Desejo...

Desejei-te ontem como uma ave
Se entrega ao vento
E a ele se abandona em desespero
Como se o meu corpo fosse um momento
E o teu o cristalizasse naquela hora
Desejei-te, fluindo na tua pele
Cada palavra, cada acorde
Daquele piano que inundava o meu quarto
Desejei-te ao mesmo compasso
Que aquela música soava
O teu corpo embebido nos Nocturnos de Chopin
Tocava-me ainda ausente
Era a tua pele que o pulsava
E a cada acorde eu despia-te
Ainda adormecida na fantasia que criaste
E os teus lábios sugavam-me a mente
A alma e o ventre, as mãos, as curvas,
E as forças e as mentiras e as agruras
E eras tu, naquele mágico momento ausente,
Esvoaçando inerte no negro licor
Dos sonhos em que persistes intacto
Cobrindo o rosto p´ra não me veres

terça-feira, junho 28, 2005

Momento lunar

Iluminada pelo luar...
eras perfeita
os teus olhos reflectiam
um círculo luminoso
que me sofucava

amava cada recanto de ti
morava no teu sorriso
sentia-me preenchido
pelo teu sabor a tudo.
eras de todas as cores!

a lua era linda!
tal como tudo o que te rodeiava
a tua beleza não cabia dentro de ti
tu espulsavas-la para o exterior
e voavas só para mim

sinceramente não sei se aconteceu
ou só fazias parte de um sonho bom
em mim era apenas utopia,
então tu murmuraste: "acorda"
e os meus olhos pareciam mentir-me

a luz era perfeita!
tu eras perfeita!
a vida era perfeita!
até a morte suava bem...

será que adormeci nos teus braços?
ou acordei dum sonho sem fim?

segunda-feira, junho 27, 2005

quando reflito,
perguntas sem resposta em mim criam conflito
e nelas vou escorregando sem qualuer força de atrito
sem conhecimento,
sem qualquer procedimento,
me incomodo sem modo de encontrar aquilo que tento
invento possibilidades, que não disso passam
mas mesmo assim mantenho-me imune ás que me massam
perguntas que todas juntas muito me ultrapassam....

domingo, junho 26, 2005

Fragmentos esbatidos da nossa estória...

passaram-se dias
meses
passaram-se desejos
desgostos
doenças
e milagres
cravaram o silêncio
e não mais se uniram
para além das margens do destino
fizeram-se de pedra
imortalizaram memórias
paisagens
gestos
e histórias
e quando despertaram da cegueira
o vento levou-lhes as asas
e despiu-os da beleza
abandonou-os a crepitar
ainda vivos na fogueira
restando só tristeza
do tempo em que amaram
o que havia de encantar
secaram-se os delírios
e das lágrimas
fluíram mares e rios
daqueles dois meninos
que se amaram sem destino
numa era em que o amor
luzia em seus olhos como a prata
e em que os dias eram tão límpidos
como a água que os levava

Menino da Lua (II)

Ás vezes ainda teimo em te encontrar
Mas amarro-me nos desejos
Para não mais te abalar
Sei que tudo em ti são segredos
Habitas no bosque encantado
Que perdi neste caminho
E não saberia mais voltar
A enfrentar a lua onde te guardas
Solitária e assustada
Ah... Soubesses tu a verdade
Que me rasgou a alma
E os confrontos ininterruptos
Por negar a voz daquela alva
Em que um sonho me acordava
Jamais te desprezaria
E olhando para trás
Não percebo como nada te denunciou
E por isso os meus olhos teimam
Em te enfrentar ainda
Sabendo que te verei sempre
Como aquele menino que abraçava a lua
No seu manto mágico de estrelas nuas
À espera que uma Papoila lhe sorrisse
E por trás dos sonhos em que se uniam
As mãos os corpos e os destinos
Vi que as suas máscaras não ruíam
Evitando mágoas, feridas e desatinos
(Maio 2005)

O desespero do silêncio

Alguém lhe diga que não o esqueço
Digam-lhe, peço-vos, não o odeio
Digam-lhe que me lavo de saudade
E que o espero ainda intacto
Digam-lhe que sei toda a verdade
E que não tema, não, não se atormente
Se me quiser ainda, levo-lhe o retrato
E peço-lhe que se transforme subtilmente
E me conduza devagar pelas razões
Que o levaram a alimentar o meu engano
Digam-lhe que lhe perdoo as omissões
As ausências do corpo que eram manto
Para me ter mais uns instantes submersa
Nas doçuras das visões
Em que eras lua e eu encanto
(Abril 2005)

a demência prolongada

queria resgatar-te da ausência
beijar-te as mãos sumarentas
que tantos sorrisos me causaram
sempre soube que apenas um poeta
poderia consumir-me e despojar-me
da privação afectiva que me aflige
somente um poeta seria o rosto deste véu
em si morando sob a face do meu céu

mas tudo que eu queria se resume a uma utopia
é o teu espectro que se lança no meu corpo
é o teu mar e o teu ventre que me lançam neste fosso
é este gemido que se entranha nas paredes
e a loucura de saber-me mais perdida
por entre os códigos que me dás e me desmentes
Neles me desfazes e me imolas na tormenta repetida
como se a faca com que me matas
jamais parasse de ceifar a minha mente

Amar o Inatingível

Amo-te mais que qualquer força
Que me alcança

Amo-te até à demência
Que me sobra da mudança

Amo-te pelos anos, pelos dias, pelas horas
Em que ausente me pertences e devoras

Amo-te por cada sopro dessa vida
Que me dás pelas palavras

Amo-te desde que o céu de mar se abriu
Perante as asas que soltavas

Amo-te por seres o eco dessa voz
Que no meu corpo se derrama

Amo-te porque tu és tudo em mim
Na perfeição demente que a minha vida mais aclama

Onde encontrar-te?

Tens que existir em algum lado
Quem és tu que me pertenceste ocultado?
Onde posso revisitar os teus passos?
O teu rosto percorre-me o imaginário
Tem que existir a tua face
E os mundos mágicos por onde andaste
Onde achar a mesma poesia
O mesmo olhar, os mesmos traços?
Depois de me ter banhado na tua voz
Evocarei o rasto dos cenários imprevistos
Voltarei atrás dos lábios pervertidos
Arriscarei amar-te na beleza dos fragmentos
Que te escondem em cenários distorcidos

Hoje e sempre o Tâmega... Esse rio que te espelha nas suas águas...

Repara como o Tâmega é discreto
Ele sabe que te amo
Mas não tece o rasto dos teus passos

"The point of no return"

Porque sinto em mim
The point of no return
em que nenhum de nós
se atreverá arriscar
diz-me que há ainda
uma esperança
no obscuro da tua mente
diz-me... diz-me porquê?...
porquê essa máscara?
julgaste-me assustada?
pensaste sempre que haveria
um caminho para mim
não pensaste nunca
que eu ficaria nessa mente
enclausurada aos teus sonhos
e quem cuidará de ti, meu amor
quando os anos te trouxerem
na doença mais um fardo?
eu jamais devia ter ficado
nesse corpo aprisionado?
quem cuidará de ti?
quem olhará por ti?
quem sonhará por ti?
quem ficará junto aos teus lábios?

num instante... o terror

num instante o terror
sibila a noite
encerra o olhar
num véu perdido

a manhã grava a tua pele
embebida nos meus lábios
o hálito das vozes brancas
triunfam docemente
diria talvez que te perdi
pois terá a lua modificado
o seu sentido?
terei acaso despido
o desgaste sucumbido
do teu corpo em mim perdido?

voar nos teus braços de cristais

hoje enquanto conduzia na estrada
avistei o alto da Sr.ª da Graça
onde um dia me quiseste levar
a um voo inaugural de parapente
(dizias que seria preciso raptar-me
no alvor da madrugada
para me levares nas tuas asas
para que eu avistasse
como tudo é ínfimo e pequeno
quando as asas nos afamam)
e nesse instante entristeci-me
porque jamais vivi esse momento
e uma vez mais compreendi
que eras ave de asas colossais
e que a lua era enseada
de onde partias e chegavas
e o meu mundo, lugar onde poisavas
a escutar uma menina embalada
nos teus braços de cristais

a dádiva das rãs

as rãs acasalam ao entardecer
insólito como me tinjo de ti
ao escutá-las no rito aflitivo
de amor e de prazer
as rãs figuram sobre as horas
E por isso inicia-se uma estória
Em que na Foz houve momentos
Em que as vozes dos seus cantos
Me impediram de morrer à tua espera
Há rãs também no Tâmega, sabias?
E na ribeira de Sta. Natália onde as ouvias
Sem saberes que eu as veria
Ridículo, pensar nisso, mas
Aquelas rãs viscosas fizeram mais por mim
Que todas as distâncias que instalamos
Sem saber às nossas portas

sexta-feira, junho 24, 2005

Hei-de amar-te até ser dia...

A ternura que parte dos meus olhos
Diz-me que hei-de amar-te a vida inteira
E que mesmo ferida pela farsa doentia
É nessa voz que reencontro
Cada partida deste porto pra onde voo
A ternura que emerge dos meus olhos
Diz-me que hei-de amar-te até ser dia...

Sentes-te capaz de perseguir o vento?

- Ele voltou!- sussurro a medo,
sei que o faz apenas
por pressentir a névoa
de outro mago que navega...
- Ele voltou!- não me julgues enganada,
não cedo a esta raiva que me chama,
mas não permito que me arrastes pelos sonhos
se ele retorna dos tesouros
e me embriaga na descrença
de que ninguém me livrará desta doença.
- Ele voltou!- parece notar que eu te olhava
enquanto me fervia na alma uma esperança.
- Ele voltou!- como se jamais tivesse havido a tempestade
como se mágoa que me causa não matasse,
e o desejo fosse o cume da vontade
de me aprisionar eterna na saudade.
-Ele voltou!- sussurro com medo que ameaces a partida,
com medo que o meu mundo te dissipe,
com medo de avistares em mim a paz perdida...
- Sentes-te capaz de perseguir o vento?

A todas as vidas que por mim passam sem vida...

vejo tristeza espelhada em tantos rostos
vidas cinzentas de onde escorrem tais desgostos
misérias inconformáveis as que defronto
vejo no íntimo corações apodrecidos
vejo e não lhes sei roubar a dor dos seus sentidos
há abismos que os atraem sem retorno
e não me lembro que a vida fosse gerada
sempre a este ritmo, sem princípio
e é por isso que a essas vidas eu dedico
estas lágrimas perdidas que assino
em que ao vê-las lhes confirmo a beleza
que jamais alguém avistará em tal pobreza

Ruiu a Máscara

Entre os meus e os teus lábios há enxofre
Casas em ruína
Cenários tenebrosos
Destituídos dos sonhos que criamos
Está ordenada a sentença
Já não me iludo como antes
Ruiu a máscara do fantasma
No silêncio dessa noite
Em que eu ainda morava

Palavras repetidas

meu amor,
quero repetir-te todas as palavras repetidas,
as palavras nunca ficarão gastas!
e eu repeti-las-ia eternamente para ti.
por mim.

há palavras que estremecem
em cada sorriso
em cada reflecçao dos teus olhos
em cada beijo sem memória de tempo ou até mesmo lugar
em cada segundo que passo a conhecer os teus recantos
e procuro-me.
as palavras ecoam
e eu dou por mim
a contruir uma vida monogama.
e encontro-me.


então eu quero repetir
e repetir...
todas as palavras que nunca serão gastas!
mas apenas perdidas na sua própia impotência

mesmo assim,
continuarei a repeti-las!

quinta-feira, junho 23, 2005

Se um dia...

Se um dia a minha vida se extinguir
E eu já não puder guardar-te nem perder-te
Precisava que o meu mundo te amasse como eu amo
Que te abrissem os braços tal como eu faria se vivesse
Precisava que me vissem espelhada nos teus ramos
E revivessem toda a cúmplice estrada que vivemos
Precisava que entendessem a nossa história
E a não julgassem, não, nem repreendessem
Precisava que escutassem dos teus lábios a minha voz
E entendessem por que me perdi em ti
Quando foi em ti que me senti e renasci
Precisava que levantassem em teu nome
Um sorriso cujo encanto ficaria gravado
Por entre os anos que perdi
Junto ao teu peito

A dor em que te oculto

hoje avanço silvas e gritos
avanço vales, mitos sem sentido
cansei-me de beijar-te sempre ausente
renovo-me na imagem do teu riso
reconheço a mesma dança, o mesmo rito
encerro-me nesse ventre corrompido
num intenso instante breve em que duvido
e a loucura que esqueço me convida
a enfrentar a verdade em que me omito

A Primeira Papoila do meu Jardim

Nasceu a primeira papoila
No meu jardim
Ajudei-a a livrar-se da cápsula
Que ainda a protegia
Fechada sobre si mesma
Olha como é bela e frágil!
A silhueta esbelta
O porte humilde
Ainda mal corada
É jovem a pequena papoila
Que sobrevive no jardim
Acolho-a com carinho entre os dedos
Seguro-a de mansinho
E conto-lhe um segredo
Do menino que habita
O seu cálice silvestre
E digo-lhe que assim que ela romper
Farei dela um livro
Onde esculpirei a memória
Do menino que dança sobre as pétalas
E que aprendi a amar na descoberta
Na cúmplice percussão das nossas telas

O meu caos absoluto

deixas-me ser quem sou
e quem quero ser
sem que o seja?

prometes que me deixas divagar
no absoluto caos
dos meus desejos?

e talvez me saibas amar
sendo quem sou
e quem pretendo ser
sem que o seja

e talvez me saibas dar
abrigo e novos desafios
na tempestade
que se gerar da magia
em que roçarem os meus idílios

Ainda e sempre, a mágoa...

Tu és o vento, meu amor
Caminho atrás dos teus passos
Há tantos anos sem me esgotar
Caminho dentro da tua sombra
Mergulho nos teus sonhos
E neles repouso
A mágoa de te ter distante
A raiva de aguardar uma mudança
Isolo-me, resguardo-me na noite
Não vens e isso já não turva
Não dói, nem cresce, nem tortura
Sobram-me apenas distâncias
E a vontade de amanhecer-me
Outra verdade, outra loucura
Sugas-me a vida sem notares
Que a afundas

Menino da Lua (I)

ainda dança o menino
no suor da madrugada
ainda o vejo pequenino
no seu manto azulado em fio de água
ainda dança o menino
faz-se chuva e areia enquanto passa
e arrisco-me no bosque encantado
busco-o, temerária, na noite intensa
enquanto ele dança com a lua a alvorada
um compasso de alga em maré cheia

Haverá limites para o vento?

Não há limites para a demência
Que a todos nos atinge
Não há limites para o perdão
Que insisto em repetir-te
Não há limites para as lágrimas
Que desfaço à partida
Quando o destino é mentir-te
Gemendo no silêncio que te oculto
Por saber o que te oprime
Não há limites quando és tu que me chamas
E eu repito-me na loucura obstinada
De seguir-te por caminhos
Em que não encontro mais saída

Haverá limites para o vento?
Haverá limites para quem sonhou um dia vencê-lo?...

O Abismo que nasce do Olhar

Se eu olhasse para o teu carro
Naquele instante morreria
Ver-te seria assassinar-me

Seduzes-me num fundo incorpóreo
Em que escolhi presentear-me
Nesta estranha fantasia
E seria sangue o que verias nos meus olhos
Se naquele instante te ferisse

Estavas perto,
Mais perto do que alguma vez nos foi possível
Mas não eras tu ali
E por isso não olhei
Porque se olhasse
E não fosses tu que ali seguisses
Eu morreria diante dos teus olhos
E levar-te-ia comigo nesse abismo
De destinos e imagens fugidias

domingo, junho 19, 2005

Para D.Q.

viajei ontem ao som de serenatas
ouvindo aquelas que, dormindo me cantavas

percorri com os meus dedos tão famintos
as imagens e as palavras segredadas

adormeci, sentindo-te sorrir pelo destino
em que estranhos factos nos demoviam os sentidos

mas proibi-me e proíbo-te que destes fados nos nasça o perigo
de nos envolvermos além do permitido

não vês?... olha como são distantes os meus passos
olha como me desfaço de muralhas e de enganos

não cries nesta vida mais um delito
já são demais os perdidos em que habito

terça-feira, junho 14, 2005

Vá, Rui, tenta não rir, é verdade que não tenho o poster, mas a verdadeira fã faz é um poema...(lol)

Para Pedro Barroso:

Sei, meditando nas palavras dessa voz
E nos sentidos que essas mãos dedilham
Que por esse peito já passou tudo...
Paixões deslumbrantes
Tanta saudade
Tanta mágoa
Tanta alegria
E o desespero
E as renúncias de amor
E os desejos amordaçados
Os sonhos vividos
E os que ficaram por viver...
E sei que guardas em tesouros os pedaços
Que fizeram de ti um homem instruído
Da vontade e coragem de saber
Da pátria e do mundo desmedido
Dos mistérios do amor inabordáveis
Dos sonhos de uma perfeição inatingível.
E derramas, Poeta, nas palavras aturdido
Os alentos e os delírios destruídos,
Os ardores da paixão, bramidos de um só grito
Numa tremenda, "violentíssima ternura"
Que aclamas nos versos entoados
Que amar é sempre a mesma aventura
Que cansa, fere, amarra e enlouquece
E é assim que em ti, o ser Poeta acontece
Na concentração intensa dos instantes breves
Derramando a dor em tudo que escreves.

Coragem para acordar...

Vagueio nas paredes, descalça
Demoro-me na noite escura,
Cobardemente adormecida.
Recalco imagens que a vida calça
E, submersa na vida fingida,
Arrisco mais uma vez a aventura
De acordar do sonho para a vida acontecida

Assalto

No meu peito estalam vidros
Do relógio do tempo nunca exacto
Há receios e desgostos nunca vistos
Na antecâmara sublime dos sonhos
Em que vieste e me roubaste..

A tua voz (I)

Quanto mais tempo estarei aprisionada às tuas palavras?
Quanto mais tempo levará até que me consuma nesta mágoa?

Tu és a voz das minhas misérias
A voz em que naufrago
A voz em que me mato...

Eu não te vejo...
Não vejo...
Cegaste-me!...
Não te vejo...
Mas sinto-te...

Sinto que me matas
Sinto que me chamas
Mas não te vejo
Cegaste-me há quantos dias?
Há quantos anos?
Mataste-me há quanto tempo?

Presença incorpórea que não me aquece
Ferida sem rosto que se esquece

quinta-feira, junho 09, 2005

Para R.

se algum dia me evadir deste circuito
é para ser barco e chama
areia de um chão fortuito
nos excessos de quem ama
é para ser véu sobre os teus pulsos
e entregar-te o que penhorei nos meus tumultos
da voz que me embriagava como a lava
se algum dia resgatar a minha vida
dos subúrbios
deixarei que a consumas
como água
porque enquanto o chão ruía
permaneceste imune
ao caos que aquela voz já me causava

Idílio Secreto

Um idílio secreto
Foi onde tu me amaste
Harpas encantam a funesta sorte
Da sinfonia que ensaiamos
O eco dos teus sons
Cravados nas paredes
Onde te perpetuas homem

Recuso ver-te de outra forma
A cura da cegueira ainda dorme
Como o desvendaria
Se tua voz não te acusava?
Estaria, talvez surda, além de cega

Ter-se-iam corrompido os sentidos?
Um idílio secreto
Aquele onde me amaste
E eu condenada ao silêncio e à ausência
Suplicava pelos teus olhos
Implorava uma estrada

Amei-te enganada sem o saber
Os meus olhos jamais te veriam
Partiste, poupando-me o espelho
Que traria a imagem que não vias
Mas que sabes que eu veria
Desconheces só que o teu segredo
Esteve sempre oculto no meu peito

quarta-feira, junho 08, 2005

Papoilas

Mataram papoilas
Ei-las feridas à tua porta
Despojadas de beleza
Não viste, pois não?
Oh! Como poderias ter notado
Que debaixo dos teus pés
Elas gritavam!
Asfixiava-as na explosão dos astros
Bebendo pelo seu halo
A seiva quente
Que te empobrecia os sentidos
E roubava-te à nudez extrema
Em que o teu corpo se cobria
Mataste-as!
Ei-las feridas à tua porta
Enegrecidas pela poeira
Das mentiras
Despidas da seda de sangue
Que as vestia
E há sementes de dor espalhadas
Em toda a parte
Não viste que as ferias
Abandonando-as, mortas
De cansaço
Pelos dias em que as sorvias

Noites Brancas

Há em mim cenários secretos
Mundos perdidos, solitários
Em que caminho num passo clandestino
Há murmúrios confidenciais
No útero do ser que sei distinto
E há palavras a mais e sem sentido
Negros túmulos rebentando o meu destino
E é arriscado viver assim, neste delírio
Isolada da vida que hoje adio


«Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Será pouco, mesmo que tenha de dar para a vida inteira de um homem?...»

Um minuto é pouco?
Mas se é tudo que tivemos,
Convém guardá-lo...

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